segunda-feira, 14 de abril de 2008

Há oito meses Depen sabia sobre plano de invasão

Jacqueline Lopes

Cerca por onde homens armados teriam entrado a pé em pátido do Presídio Federal
Foto:Bruno Arce

Desde agosto do ano passado - portanto há oito meses - o Depen (Departamento Nacional do Sistema Penitenciário) tem informação de que a qualquer momento o Presídio Federal de Segurança Máxima de Campo Grande seria alvo de ataques com intuito de resgatar presos ligados a facções criminosas ali encarcerados, segundo disse uma fonte ao Midiamax que pediu para não ter o nome revelado.

“Sabíamos que aconteceria, mas não podíamos precisar quando", disse a fonte, afirmando que graças ao alerta os bandidos não tiveram êxito, pois a tentativa de invasão foi prontamente rechaçada. Coincidência ou não, Fernandinho Beira-Mar, o mais famoso traficante do País, está desde julho do ano passado no presídio de Campo Grande.

Ontem por volta das 22h10 o que era ameaça foi concretizado. A presença de dez homens a pé e armados com fuzis 762 na área do estacionamento da unidade prisional e os sobrevôos na região feitos por um helicóptero foi uma das demonstrações de força já anunciada. “Colocaram os buchas de canhão ali perto porque certamente o ataque viria por outro lado”, diz. Os bandidos ocupavam motocicletas e dois veículos.

Alguns dos agentes envolvidos na ação disseram surpresos com o que aconteceu. “Nunca tinha visto isso. Foi tiro pra todo lado em cima das três torres do presídio”, disse um deles pedindo para não ter o nome revelado.

“Tranqüilidade”

Nesta manhã, cerca de 12 horas após o atentado, o diretor do Depen, Wilson Damásio, e o juiz-corregedor do Presídio Federal Odilon de Oliveira, tentaram passar um clima de tranqüilidade à imprensa com relação à tentativa de invasão ao presídio.

Ambos enfatizaram a ação dos agentes que conseguiram rechaçar a ação dos bandidos. Foram meia-hora de tiroteiro, diz um agente. As autoridades disseram que o tiroteio durou 20 minutos e não ocorreu na área do estacionamento. Já os agentes envolvidos na operação disseram à imprensa que tudo ocorreu ali, na frente do portão de entrada da unidade prisional.

A PF (Polícia Federal) investiga o caso. São 30 dias para o inquérito ficar pronto.

Após a fuga dos bandidos, houve o apoio Polícia Federal e da Cigcoe (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais). Cerca de 100 homens atenderam ao chamado e ajudaram a fechar o cerco na região.

Ainda conforme um dos agentes envolvidos, três bandidos chegou até o pátio do presídio, do lado de fora, perto da pista de pouso, após obstruírem uma cerca de arame farpado, distante aproximadamente 70 metros do portão principal, que separa o estacionamento externo da área onde está sendo construído o aterro sanitário.

Wilson Damásio acredita que, pela logística usada, a intenção era resgatar algum dos 160 presos que cumprem pena no local. Entre os mais famosos estão os megatraficantes Fernandinho Beira-Mar e o colombiano Juan Carlos Abadía. O advogado deles, Luiz Gustavo Bataglin descarta uma ação comandada pelos clientes.

Os agentes chegaram a lançar granadas contra os bandidos, o que presume que estivessem a curta distância, já que o explosivo é arremessado geralmente a mais de 50 metros. Dois dos tiros deflagrados pelos agentes acertaram a estrutura de cimento da guarita.

Ilegal

Quanto ao helicóptero que teria sobrevoado ilegalmente a região no mesmo momento, o diretor do Depen disse que a responsabilidade pela vigilância do espaço aéreo é da Força Aérea, e incitou a imprensa a questionar a Base Aérea sobre o fato de a aeronave não ter sido identificada.

O helicóptero não sobrevoou a área do presídio, garantiu Damásio. Se isso tivesse acontecido os agentes não poderiam abater a aeronave. O motivo, a Lei do Abate não permite que uma aeronave seja derrubada. "Somente uma ordem do presidente Lula pode-se derrubar uma aeronave".

O diretor do Depen também descartou que tenha ocorrido vazamento de informações de dentro do presídio para os bandidos. A PF tem um mês para concluir as investigações do inquérito já instaurado.

Risco

Os agentes penitenciário reclamam do pouco efetivo. São 225 agentes. Damásio disse que há um mês um projeto que prevê um concurso público está parado no Ministério do Planejamento. "Quando questionaram o nosso número de agentes alegamos que isso se faz necessário. O que aconteceu aqui foi a resposta", finaliza Damásio.

A ação teria envolvido uma das facções criminosas: PCC (Primeiro Comando da Capital), Comando Vermelho ou grupo terroristas do Líbano. Odilon de Oliveira disse que todas estão presentes hoje dentro da unidade prisional. São 160 detentos.

Ele já havia alertado sobre a fragilidade do Estado diante das ações de grupos fortemente armados ligados a presos considerados lideres nos presídios, resultado da superlotação carcerária. Hoje, menos falante, o juiz preferiu manter a linha da cautela.

O diretor do Depen confirmou que diversas ameaças envolvem um sistema de tamanha complexidade.

“Olhamos tudo para ver se tinha algum preso com mala ou mochilas prontas, mas nada foi constatado”, afirma o diretor do presídio, Arcelino Vieira Damasceno, dizendo ainda que o clima no local é de alerta.

Explosivos

No dia 8 de novembro policiais da Denar (Delegacia de Narcóticos) apreenderam cerca de cinco quilos de explosivos em uma residência localizada no bairro Aero Rancho, em campo Grande.

Um homem identificado como Alessandro Silva de Souza, 18 anos. Um comparsa conseguiu fugir ao perceber a chegada da polícia. Na época uma fonte disse ao Midiamax que os explosivos faziam parte de um plano do PCC para invadir o presídio e libertar presos. A polícia descartou a apreensão à facção criminosa.

Fonte:MidiamaxNews

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